Aquecer as folhas no fogo interrompe o processo ao destruir as enzimas. Como resultado, há muito pouco theaflavin e moléculas como estas em, digamos, chás verdes.
Mas centenas de outros compostos se formam no chá com o tempo - seus papéis ainda não estão claros. O que se sabe é que o resultado final é um perfil químico diferente para cada tipo de chá.
Saúde
Dado à quantidade de pessoas que bebem chá, há um interesse em saber se o hábito traz algum benefício medicinal. Acredita-se que as moléculas encontradas na bebida podem proteger células de danos, mas apesar de tanta pesquisa ainda há evidências conflitantes sobre haver algum benefício além de deixar o corpo quentinho e a mente ligada.
Porque, é claro, há os estimulantes. Uma xícara de chá tem cerca de metade da cafeína do mesmo volume de café, mas ainda serve para evitar o sono após o almoço.
Você pode já ter ouvido falar que a "onda" provocada pela cafeína do chá é diferente da que se sente ao tomar café. Estudos descobriram que isso pode ocorrer por causa de um aminoácido chamado teanina, que ocorre no chá.
Quando os voluntários dos testes consumiram tanto cafeína quanto teanina - versus cafeína e outras moléculas do chá - elas se mostraram, de forma moderada, mais alertas e com mais capacidade de alternar entre tarefas do que apenas com cafeína.
Porém, a quantidade em uma xícara pode não ser a mesma que as doses dadas durante um estudo, e o efeito da teanina não é enorme. Mas parece fato que a cafeína do chá vai ter dar uma levantada.
É isso que faz o chá ter o gosto que tem (e que dá energia para quem bebe). Mas por que essa mistura de moléculas significa tanta coisa para os britânicos?
A antropóloga Kate Fox escreve, no livro Watching the English, que há diversas mensagens claras enviadas sempre que um britânico faz um chá.
Ela diz que os tipos mais fortes - com doses maiores dessas moléculas - são tipicamente bebidas pela classe trabalhadora. E o chá vai ficando mais fraco a medida que a pessoa sobe na escala social.
Acrescentar leite - algo muito comum no Reino Unido - e a forma de adoçar tem seus códigos particulares.
"Usar açúcar no chá é considerado como um indicador infalível de pertencer à classe baixa: até uma colher de açúcar traz suspeita (a não ser que você tenha nascido antes de 1955); mais de uma e você é no máximo de classe média baixa para média; mais de duas e você é, definitivamente, da classe trabalhadora", ela escreve.
Outra regra envolve quando e como o leite é acrescentado - ou se é acrescentado: beber um chá Lapsang Souchong sem açúcar ou qualquer tipo de adoçante pode ser um sinal de ansiedade de classe da classe média.
Fox sugere: é o mais distante possível que alguém pode chegar do doce e forte "chá dos pedreiros", como é chamado no país.
Quanto ao motivo de os britânicos beberem chá - algo que vem de outros países -, há pontos históricos que explicam como o costume foi parar ali.
Um cientista especialista em alimentação disse algo que parece se aplicar neste caso. "Na minha opinião, as escolhas em relação à comida são feitas com base no ambiente, no contexto", escreveu.
Você gosta do que gosta não necessariamente por uma qualidade intrínseca, apesar de que, obviamente, é possível que as pessoas desenvolvam um gosto por praticamente tudo. A importância real de uma comida ou bebida na sua vida pode ser por tudo que a cerca - a cultura dela.
Fox observa que na verdade, além das propriedades químicas, o chá é infalível em situações constrangedoras.
Após detalhar os significados por trás dos diferentes métodos de preparação, ela escreve: "Fazer chá é uma atividade perfeita para o 'deslocamento': sempre que um inglês se sente constrangido ou desconfortável (ou seja, quase o tempo todo), ele faz chá".
Também é interessante notar que algumas moléculas envolvidas no sabor dos chás provavelmente evoluíram como defesa contra pássaros, insetos e outros animais. Isso é um pouco irônico se você pensa em quanto os humanos são atraídos por eles - e o significado social ligado ao chá.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-36538971