Aparecimento das mamas, surgimento de pelos na região pubiana e nas axilas, elevação da oleosidade da pele, acne e a primeira menstruação. Nesse período, também se observa o estirão do crescimento. Ao ler essa lista de sintomas, logo vem à cabeça a imagem de uma adolescente. Mas, em alguns casos, os sinais podem fazer parte da vida de uma turminha bem mais nova.
É a chamada puberdade precoce. Apesar da tendência a se antecipar na população em geral, a puberdade só é considerada precoce pra valer quando o surgimento de características sexuais acontece antes dos oito anos nas meninas. Tantas modificações corporais costumam gerar angústia nos pais, que se perguntam se elas não estão se manifestando muito rápido. E junto com todos os sinais, vêm duas preocupações principais: o impacto psicológico e o comprometimento da estatura. As meninas são emocionalmente imaturas para lidar com um corpo desenvolvido. Isso pode gerar angústia e problemas de auto estima.
Quando se trata da altura é preciso deixar claro que cada criança tem um potencial de crescimento, dependente de fatores genéticos. Mas a puberdade precoce acelera a idade óssea, o que pode resultar em uma estatura final aquém do esperado. Ou seja, a criança ganha vários centímetros em um curto período e, depois para de crescer.
Cerca de 80% das crianças com puberdade precoce têm a condição em sua forma clássica chamada puberdade central verdadeira. Nela, a hipófise, uma região do cérebro, começa a liberar antes da hora o hormônio luteinizante (LH) e o folículo-estimulante (FSH). Essas substâncias estimulam os ovários a produzirem estrógeno desencadeando a maturidade sexual física antecipadamente, ou seja, antes da adolescência, que normalmente acontece entre os 8 e 13 anos.
Os outros 20% dos casos de puberdade precoce são conhecidos como periféricos e estão diretamente associados a doenças, como tumores nos ovários, cistos ovarianos, disfunção nas glândulas adrenais, que estão ligadas à fabricação de hormônios, e hipotireoidismo. Os meninos são menos acometidos pelo problema, ele ocorre entre cinco e dez vezes mais nas meninas, mas o risco de haver uma causa mais grave por trás dele nos garotos é maior.
Quais são as causas? A ciência ainda não sabe explicar exatamente o que desencadeia o problema e o que está levando a esse aumento no número de casos, mas já tem algumas pistas. Nas meninas, um dos fatores que pode ser associado a esse quadro é a elevação na ocorrência de sobrepeso e obesidade. O tecido gorduroso secreta estrógeno (hormônio feminino), desencadeando alterações hormonais que podem servir de gatilho para a puberdade antes da hora nas garotas. A influência genética também deve ser levada em consideração, já que as filhas tendem a ter a primeira menstruação com uma idade próxima a da mãe. Além do peso, o estresse também atua como gatilho do problema.
O distúrbio merece atenção independentemente do que tenha levado ao surgimento da puberdade precoce. É muito importante que ela seja avaliada por um médico o quanto antes porque pode desencadear quadros mais graves. As crianças correm o risco de apresentar alterações no crescimento, levando à diminuição da sua estatura final, e têm mais chances de sofrer com obesidade, hipertensão, diabetes do tipo 2, infarto e acidente vascular cerebral. É possível ocorrer também transtornos psicológicos e emocionais ligados a mudanças de comportamento provocados pelas alterações hormonais, constrangimentos na escola ou na rua por causa das modificações físicas.
De olho nisso – e no fato de que essa maturidade sexual antes da hora pode ser sinal de que algo não está certo com o corpo, a situação merece atenção por parte dos pais e dos profissionais de saúde.
Vale lembrar que o excesso de exposição ao estrogênio ao longo da vida também pode levar ao desenvolvimento de tumores relacionados ao hormônio, como os de mama e ovário. Garantir que a puberdade venha no momento certo contribui com a prevenção deles. Sem contar que o tratamento é uma oportunidade de detectar e corrigir eventuais desequilíbrios que poderiam comprometer a fertilidade no futuro.
O primeiro passo para contornar o problema é identificar seu gatilho. Mas nada de desespero: os especialistas estimam que cerca de 90% dos episódios de puberdade precoce em meninas sejam idiopáticos, ou seja, sem uma origem determinada.
E falar em prevenção significa ensinar sua filha a adotar uma dieta saudável, privilegiando itens naturais aos industrializados, gordurosos e açucarados, praticar atividade física, que auxilia no controle do peso e combate o estresse e também dar preferência a produtos orgânicos.
Luciana Radomile
Coluna Ginecologia e Obstetrícia
Médica Formada pela Faculdade de Medicina da PUC Campinas, Especialização em Ginecologia e Obstetrícia na Unicamp. Membro da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia ( Febrasgo). Título de especialista em Ginecologia e Obstetrícia TEGO- Contato: (19)993649238, dralucianaradomile@gmail.com