Na semana passada começamos a conversar sobre Nudge.
Em inglês “Nudge” significa “dar um empurrãozinho, cutucar as costelas, principalmente com os cotovelos”. Nesse sentido, o nudge é o ato de alertar ou avisar gentilmente. Quem cria nudges? Arquitetos de escolhas podem ajudar. A princípio todos podemos ser “arquitetos de escolha”. Um arquiteto de escolhas tem a responsabilidade de organizar o contexto no qual as pessoas tomam decisões. “Se você faz a cédula de votação usada para escolher candidatos, você é um arquiteto de escolhas. Se você é médico e vai explicar as opções de tratamento disponíveis para um paciente, você é um arquiteto de escolhas. Se elabora o formulário de adesão ao plano de saúde que os recém-contratados precisam preencher ao entrar na empresa, você é um arquiteto de escolhas. Se está explicando ao seu filho ou a sua filha que faculdades ele ou ela pode cursar quando terminar o ensino médico, você é um arquiteto de escolhas. Se você é um vendedor, você é um arquiteto de escolhas (mas nesse caso você já sabia).
Um ótimo exemplo do nosso dia a dia é a disposição dos produtos nos supermercados, a música que toca enquanto você faz compras e os produtos disponibilizados próximo aos caixas. Nem paramos para pensar que a simples disposição possa interferir na nossa escolha, mas quem nunca saiu do mercado com muito mais coisas do que pensou, planejou ou desejou? Detalhes mínimos que parecem insignificantes podem gerar impactos no comportamento das pessoas. Uma arquiteta de escolhas que trabalha na disposição de alimentos no refeitório de uma escola, por exemplo, pode dar um nudge, ou seja, influenciar as crianças a comer de uma forma saudável. Isso é o que Richard Thaler e Cass Sunstein também chamam de paternalismo libertário.
Pensando bem, são conceitos contraditórios. O lado libertário está na convicção de que as pessoas devem ter liberdade de escolhas, para fazer o que quiserem, quando usamos o adjetivo “libertário” para modificar o substantivo “paternalismo”, é apenas no sentido de preservar a liberdade. Os paternalistas libertários querem cada vez mais que as pessoas sigam seu próprio caminho, e não impor obstáculos. O lado paternalista, portanto, legitima arquitetos de escolhas para tentar influenciar o comportamento das pessoas, desde que seja para tornar a vida delas mais longa, mais saudável e melhor. O nudge no setor público e privado seria o empurrãozinho capaz de mudar o comportamento das pessoas de forma previsível sem vetar qualquer opção e sem nenhuma mudança significativa de seus incentivos econômicos.
Nudges não são ordens, são escolhas influenciadas, para que tomemos a melhor decisão, “por nós mesmos”. Afinal, pessoas reais têm dificuldade para tomar sempre as melhores decisões. Muitos podem confundir o paternalismo libertário com inclinações partidárias de direita ou esquerda. Na verdade, os economistas comportamentais acreditam que seja um fundamento promissor para o multipartidarismo. Em muitas áreas, como a proteção ao meio ambiente, o direito familiar e a escolha de uma escola para os filhos, o melhor tipo de governo requer menos coação e limitações governamentais e mais liberdade de escolhas. A proposta é simples, que os governos substituam exigências e proibições por nudges, levando a um Estado não maior, mas, sim, um governo melhor.
Na semana que vem falaremos mais sobre como o sistema de funcionamento de nosso cérebro é complexo e como os pensamentos intuitivos (automáticos) e reflexivos (racionais) permeiam nossas decisões, e nesse ambiente, continuar falando da importância dos nudges.
Tatiana Belanga Chicareli
Coluna Economia e Comportamento
Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com