Envelhecer com rugas - Coluna Psicologia e Comportamento por Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos

Tenho notado com frequência que as pessoas têm envelhecido sem rugas. Não é um elogio, se trata de uma reflexão.

O envelhecimento é um fenômeno abrangente, envolve todas as áreas da vida humana: física, comportamental, profissional e por aí vai. Em todas elas, segue um padrão de lentificação, engessamento de personalidade, diminuição de capacidades, perdas físicas. Por outro lado, usufrui maravilhosamente da experiência adquirida ao longo dos anos e navega mares tranquilos por conta da divina maturidade adquirida nesse processo de lapidação vivencial.

Mas e as rugas? As rugas estão sumindo. Por que? Porque agora temos técnicas para esticar a pele, reviver artificialmente aquilo que já está cansado.

É justo?

É justo que acordem a pele que há tanto já delineia e comanda as fronteiras com o mundo de fora? É ela que enfrenta o frio, calor, toca suavemente o vento ou impede bravamente a invasão das intempéries externas. Agora, depois de tempos de bravura, devemos estica-la, puxa-la e preenche-la, em uma violação sem fim.

Na verdade, pensamos que ao reconstruir artificialmente a pele, reconstruiremos nossa própria juventude, nossas próprias vontades e disposições perdidas, já passadas ou ameaçadas.

Pele é aonde termino eu e aonde começa o mundo. A divisão mais concreta que temos entre o que somos e o que não somos e é no que há de mais concreto então que precisamos concentrar nossa indignação de envelhecer:

 _Vamos reverter esse absurdo de envelhecimento concreto e aparente e tudo ficará bem!

A coitada da pele é que leva a pior.

O envelhecimento é algo a ser aceito e praticado. Sem prática não há evolução. Praticar a limitação com outros desenvolvimentos, as perdas com novas descobertas e a diminuição do vigor físico com a elegância, a simpatia e o bom humor. Envelhecer é aprender um novo padrão de comportamentos e digerir os estados emocionais que o acompanham. Não é fácil, mas também não é fácil aprender a ser mãe, profissional ou esposa (considerem aí também as versões masculinas de tais papéis).

Todos são padrões novos a serem aprendidos ao longo da vida e assim é também com o envelhecer.

Mas aí alguém deve ter pensado: ela não falou do medo da morte e envelhecer é morrer.

Não. Nascer é morrer. Viver é morrer. Envelhecer é apenas parte de algo que começou quando você veio ao mundo. Não vamos prejudicar nosso bom envelhecer com o medo de morrer.

Vai lá cuidar disso.

Vai descobrir o que te pacifica o coração e te inspira a alma.

Vai descobrir se acredita em alma!

E assim é que se combate o medo de morrer, buscando com esforço o que dá sentido a sua existência. Não perturbe o seu envelhecimento.

 Gosto muito desta foto da atriz Audrey Hepburn do tipo “antes e depois”:

Fico fascinada como as rugas lhe caíram bem e acho que isso acontece quando deixamos que elas tomem suas formas, se acomodem e façam parte de nós. Aí então podemos investir nessa altivez que só a velhice pode trazer através da vida-vivida-e-aprendida.

A paz vinda com maturidade é bela e serena.

Gente fina, elegante e de pele sincera.

 

Flávia de Tullio Bertuzzo Villalobos

Psicóloga formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas e especialista em Psicologia Clínica Comportamental pela Universidade de São Paulo. Psicoterapeuta comportamental  de adultos e famílias, psicóloga do Ambulatório de Saúde Ocupacional da 3M do Brasil e proprietária da Villa Saúde – Psicologia & Cia, uma proposta multidisciplinar e inovadora de fazer saúde íntegra. Minha grande busca é transpor os limites do consultório, viver e aprender a psicologia em outras fronteiras, levar a ajuda e receber o aprendizado.  Contato:  villasaudepsicologia@gmail.com 

Facebook: Villa Saúde - Psicologia & Cia