Raquel Baracat

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Como ajudar crianças e adolescentes na quarentena - Coluna Pediatria por Dra. Carolina Calafiori de Campos

Desde o início da quarentena, tanto nós adultos como as crianças, fomos submetidos a mudanças bruscas e importantes em nossas rotinas. 

Se essa mudança causou um forte impacto emocional em nós, imaginem em nossos pequenos? 

Subitamente foi " retirado" das crianças as atividades nas escolas, o convívio com amigos, professores e familiares, as terapias, a prática de esportes e o lazer. Além disso, a grande maioria dos pais estão diante do enorme desafio de trabalhar em home office, além de cuidar da casa, manejar as tarefas escolares e aulas online dentro de um contexto de incertezas econômicas, sociais e psíquicas inéditas. 

A situação atual repercute ainda mais nas crianças com problemas do desenvolvimento, por exemplo, aquelas com transtorno do espectro autista (TEA) ou transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).

Com base na Nota de alerta, da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicada em 19 de junho de 2020,  hoje falaremos sobre algumas dicas de como enfrentar esse momento crítico com as crianças.

 1-      Como distrair meu filho(a) em casa e ajudá-lo(a) a passar o tempo? Uma das vantagens da quarentena é a possibilidade de um maior contato familiar; para isso precisamos realizar atividades que conciliem o tempo e as necessidades da criança. As brincadeiras estimulam a curiosidade e a criatividade das crianças, desde um simples quebra-cabeça ou desenhos livres até um jogo de “esconde-esconde” ou atividades manuais.

Da mesma maneira que as atividades lúdicas com os pais em casa, é importante tentar procurar oportunidades para interagir com outras crianças, principalmente as que fazem parte da rotina delas, seja por meio de vídeos, ligações ou jogos online.

Uma estratégia interessante em momentos de crise, quando a maioria das pessoas sente que as soluções estão fora do seu controle, é oferecer escolhas que visam a aumentar o sentimento de autonomia e motivação. Algumas opções são escolher uma nova rota de caminhada segura, um jogo ou um programa de TV para ser assistido em família, ou leitura conjunta de história e livros apropriados.

 2-   Devo criar novas regras e/ou limites dentro de casa? Uma das regras de ouro da educação infantil é cultivar um ambiente onde haja regras claras e constantes. Porém, nas circunstâncias atuais, a criança deve aprender a conviver com mudanças na sua rotina. Um dica : utilize fotos, desenhos ou imagens que demonstrem objetivos a serem atingidos ou mostrem as atividades daquele dia, por exemplo fotos mostrando a escova de dente, uma criança tomando banho, uma família durante uma refeição, e assim por diante. Além de estimular a criança, não podemos nos esquecer de parabenizar a cada realização bem sucedida, caracterizando um reforço positivo.

Cuidado especial com a tendência ao abuso de telas na quarentena. Você deve planejar previamente o tempo de tela na programação diária. Uma dica é  planejar o tempo de tela antes das atividades preferidas, pois desligar os dispositivos antes de um lanche será mais fácil do que antes de fazer a lição de casa.

3-  O que fazer quando meu filho(a) não quiser mais ficar em casa? É claro que em muitas situações em que a criança se mostrará descontente com o ambiente domiciliar, podendo até apresentar alterações do comportamento. Diante dessa situação, minha dica é aguardar horários mais tranquilos, com pouco movimento na rua , para sair ao ar livre, caminhar e distrair-se, porém, nunca se esquecendo das normas de segurança, como uso de máscara para crianças maiores de dois anos, e medidas de higiene e distanciamento social.

 4-   O que fazer para não prejudicar os ganhos que meu filho(a) teve nas terapias até o momento? Apesar de ser impossível manter a terapia ocupacional, fonoterapia, psicoterapia, entre outras, com a mesma intensidade, é importante que tanto a criança , como os pais permaneçam em contato com o terapeuta, a fim de que estes possam auxiliar com dicas de tarefas domiciliares e até mesmo sessões online. É fundamental lembrar que não devemos esperar respostas imediatas com a mudança das rotinas e que por muitas vezes , algumas crianças apresentarão períodos de regressão do desenvolvimento ou recrudescimento de sintomas que já estavam superados ou bem reduzidos.

 5-  Como devo proceder em casos de urgência ou dúvidas em relação às medicações? Caso ocorra alguma urgência/emergência de saúde, tente contato com seu médico assistente; do contrário, procure uma Unidade Básica de Saúde (UBS), Unidade de Pronto- -Atendimento (UPA) ou o hospital mais próximo. Não tome decisões isoladas sobre os medicamentos, como alterar ou suspender doses.

 6- Mudanças comportamentais poderão acontecer nesse período? Como proceder? As crianças com TEA costumam ter dificuldades em expressar verbalmente sentimentos tais como medo, ansiedade, desconforto com a mudança de rotina, e em compreender o motivo do confinamento. Assim, os pais devem estar atentos a mudanças do comportamento ou intensificação de disfunções preexistentes, tais como: – mudanças no padrão de sono e consequente piora do comportamento durante o dia, – alteração no apetite, – irritabilidade e/ ou aumento da agitação, – aumento de comportamentos repetitivos, – preocupação excessiva ou ruminação. Se essas alterações forem observadas, os pais devem entrar em contato com o médico de referência para que uma intervenção apropriada seja aplicada, podendo incluir também ajustes na medicação.

7-  Como manter-se bem emocionalmente para cuidar das crianças, que nesse momento precisam tanto desse apoio? Uma sugestão é não se sentir culpado(a), acolher o seu sentimento e conscientizar-se de que está tentando fazer o melhor possível. Uma sugestão prática é descartar as preocupações “desnecessárias”, como: O que vai acontecer com o ano letivo? Quanto tempo a quarentena vai durar? Quais serão os efeitos da quarentena no meu futuro? Essas dúvidas serão esclarecidas no devido tempo, portanto ficaremos mais leves se conseguirmos adiá-las.

Compartilhe suas dúvidas e apreensões com a sua rede de apoio que pode ser constituída por profissionais que cuidam dos seus filhos, familiares e outras pessoas que possam estar vivenciando a mesma angústia. Pode ser muito útil eleger alguém com quem se possa conversar francamente sobre os medos e incertezas momentâneos.É tempo de solidariedade. Cuide-se para poder cuidar! Isso inclui boa alimentação, atividade física e uma rotina que permita alguns momentos de prazer como uma leitura, a prática de um hobby, meditação ou um trabalho manual.

Para finalizar ,se o seu filho já falar, estimule-o a expressar como se sente e pergunte sobre as preocupações dele, e procure tranquilizá-lo. Se o seu filho ainda não tiver habilidades verbais, dê atenção especial aos gestos e às variações do comportamento, que podem denunciar o grau de desconforto. Muitas crianças não verbais são capazes de entender explicações simples sobre o que está acontecendo à sua volta.

Esse período é delicado sim, e precisamos aprender sobre a resiliência, que é a capacidade de recuperar-se de situações de crise e aprender com ela. É ter a mente flexível e o pensamento otimista, com metas claras e a certeza de que tudo passa... E isso vai passar .

Carolina Calafiori de Campos

Coluna Pediatria

Dra Carolina Calafiori de Campos - CRM 146.649 RQE nº 73944 

Médica Formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, Especialização em Pediatria pelo Hospital da Puc Campinas, Especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital da Puc Campinas, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria - Contato: carolinacalafiori@hotmail.com  

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