Vacinas COVID -19 em crianças e adolescentes - Coluna Pediatria por Dra. Carolina Calafiori de Campos

Desde o início da pandemia , a COVID-19 apresenta como característica o acometimento menos frequente de crianças e adolescentes, quando comparado a adultos; os estudos realizados em diversos países estimam que o número de casos de COVID-19 na faixa etária pediátrica seja de 1% a 5% do total de casos confirmados.Na maioria dos casos , as crianças e adolescentes apresentam formas clínicas leves ou assintomáticas, porém esse grupo não está totalmente isentos da ocorrência de formas graves, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) temporalmente associada à COVID-19.

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Com o desenvolvimento acelerado das vacinas para COVID-19 e a utilização bem sucedida nos adultos, a realização de estudos com estas vacinas em adolescentes e crianças, passou a ser uma consequência natural deste processo. No Brasil, até o momento, a única vacina licenciada pela Anvisa para uso em adolescentes maiores de 12 anos de idade é a produzida pelo laboratório Pfizer, que utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm). Em relação às crianças menores de 12 anos, ainda não há nenhuma vacina licenciada para uso no Brasil. Vários estudos estão em andamento, mas os ensaios clínicos de fase 3 precisam ser concluídos para garantir que as vacinas sejam seguras e eficazes para essas crianças.

Em relação a vacina Coronavac® , foram publicados estudos de fases 1 e 2 , com 743 crianças e adolescentes de 3 a 17 anos, demonstrando segurança e imunogenicidade da vacina nessa população. Baseado nessa publicação, o Instituto Butantan solicitou à Anvisa a autorização para o uso emergencial da vacina inativada Coronavac® na faixa etária de 3 a 17 anos, porém a solicitação não foi aceita a princípio, considerando-se que os dados apresentados à agência foram insuficientes para estabelecer o perfil de imunogenicidade e segurança da vacina na população pediátrica. Novos estudos nessa população deverão ocorrer, aqui no Brasil.


Os resultados dos estudos com vacinas COVID-19 em adolescentes têm mostrado várias consequências: além do benefício direto de prevenção da doença, indiretamente há a proteção da comunidade. Embora as crianças geralmente tenham uma frequência menor de COVID-19 sintomática do que adultos, as escolas, a prática de esportes e outros encontros da comunidade , podem representar fontes importantes de surtos e transmissão, a despeito da imunização de adultos.

A vacinação de adolescentes permitirá que eles se reintegrem à sociedade e retomem o aprendizado presencial na escola com segurança, que são resultados especialmente importantes, dados os graves efeitos da pandemia de COVID-19 na saúde mental dessas crianças.


Em nota técnica recente publicada, o Ministério da Saúde do Brasil passou a recomendar a vacinação contra a COVID-19 para a população de 12 a 17 anos com e sem comorbidades, com início a partir de 15 de setembro de 2021, exclusivamente com o imunizante Comirnaty do fabricante Pfizer, obedecendo a seguinte ordem de prioridade:

:a) População de 12 a 17 anos com deficiências permanentes;

b) População de 12 a 17 anos com comorbidades;

c) População de 12 a 17 anos gestantes e puérperas;

d) População de 12 a 17 anos privados de liberdade;

e) População de 12 a 17 anos sem comorbidades.

Idealmente, a vacinação deve, nos seus estágios iniciais, priorizar adolescentes com fatores de risco, utilizando critérios semelhantes aos já utilizados para adultos, listados abaixo:

– Diabete mellitus;

– Doenças pulmonares crônicas;

– Doenças cardiovasculares;

– Doença hepática crônica;

– Doença renal crônica;

– Doença neurológica crônica;

– Imunossupressão (congênita ou adquirida, incluindo HIV/Aids);

– Hemoglobinopatias;

– Síndrome de Down;

– Obesidade (escore z>+3);

– Gestantes e puérperas,

Além dos adolescentes gestantes e com comorbidades, devem ser considerados prioritários para vacinação os seguintes grupos populacionais, em função de uma vulnerabilidade social e/ou econômica: adolescentes pertencentes a povos indígenas, institucionalizados, moradores de rua e aqueles privados de liberdade.

Enquanto a vacina não chega para os pequenos, todos os adolescentes maiores de 12 anos de idade devem receber a vacina COVID-19 de RNAm da Pfizer ; o Departamento Científico de Imunizações da SBP , recomenda essa aplicação , tendo como base os estudos clínicos desenvolvidos com esta vacina , neste grupo etário, além do licenciamento pela Anvisa para uso da mesma no Brasil e a experiência de uso em outros países. Além disso , com a progressão da vacinação completa de adultos, os casos graves (hospitalizações e mortes) de COVID-19 tendem a se concentrar em populações ainda não vacinadas, ocorrendo um natural desvio de faixa etária, com aumento percentual de casos nas crianças.

Embora até o momento a vacina tenha se mostrado segura na adolescência, recomenda-se monitoramento contínuo de eventos adversos associados às vacinas com a devida notificação de ocorrência dos mesmos aos órgãos competentes.

Dados: Documento Científico : Vacinas COVID -19 em crianças e adolescentes ( nº 18 ; 14 de setembro de 2021 ) - Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.

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Carolina Calafiori de Campos

Coluna Pediatria

Dra Carolina Calafiori de Campos - CRM 146.649 RQE nº 73944 

Médica Formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, Especialização em Pediatria pelo Hospital da Puc Campinas, Especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital da Puc Campinas, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria - Contato: carolinacalafiori@hotmail.com