Você tem fome de quê? Coluna Psicologia/Psiquiatria por Leticia Kancelkis

Por que você come tanto? Por que você compra tanto? Por que deseja tanto assim ter um corpo perfeito, sacrificando-se excessivamente na academia? Como se justificam os excessos de sua vida?

Não temos fome apenas de comida, mas, muitas vezes, “entendemos” que é comendo compulsivamente que conseguiremos nos saciar. O resultado disso não é dos mais desejáveis: sentimento de culpa, aumento de peso, diminuição da autoestima... A mais longo prazo, isto pode significar candidatar-se às condições de hipertenso, diabético, entre outras realmente indesejáveis. O sentimento de inadequação é inevitável bem como o de estar completamente à mercê da comida. Ela manda em você! Você se sente refém dela, como se o serinanimado fosse você. Sentimentos de impotência e descontrole se apoderam do seu coração. Por quê? Porque não é desse tipo de alimento que você precisa e, sendo assim, não é desse jeito que se saciará.

A fome da alma pode se manifestar sob a forma de todo tipo de compulsão: por compras, por acúmulo de coisas das quais não precisa, por bebidas, drogas, sexo, até mesmo a busca incansável (mas que na verdade cansa muito) por um corpo perfeito e uma imagem irrepreensível.

A menina que não quer crescer, por achar isso muito arriscado, pode desejar permanecer com um corpo que não evidencia suas formas de mulher, “escondendo-se” atrás do excesso de peso. O abuso sexual pode ser um bom motivo inconsciente para o início de um quadro de transtorno do comer compulsivo. Pode ser o desencadeador também de outros tipos de compulsão como os citados acima, em uma busca por sentimento de controle e segurança ou mesmo de que pode vencer sentimentos de impotência e culpa provenientes de fantasias de que não pôde evitar determinados acontecimentos ou até mesmo de que os provocou. Em seu próprio imaginário inconsciente, pode haver facilmente a ideia de que é responsável por situações das quais se é absolutamente vítima!

É desse modo que nos tornamos algozes de nós mesmos, em ciclos de autoboicote e autopunição intermináveis. Este ciclo precisa ser interrompido, antes de que ele prossiga lhe roubando paz, vida e alegria. Permita-se ser vítima do que realmente você é. Tenha a consciência de que sobreviverá se contar a si próprio que não teve força para combater uma dada violência ou abuso. Saiba que não é responsável por tudo o que lhe acontece. Lembre-se de que Deus mandou que amássemos a nós mesmos e não somente a nosso próximo!

Letícia Kancelkis – Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype.

Contato: leticia.ka@hotmail.com