De uma surpresa no Natal, o pequeno Billy se tornou companheiro de Ítalo e o resultado é que Imaculada não foi chamada novamente para discutir os problemas disciplinares do filho. As notas estão boas e o menino, mais tranquilo.
Essa história é um exemplo dos benefícios da relação entre crianças e animais. Eles incluem, é claro, o aspecto bioquímico, já comprovado por pesquisas. Um exemplo é a maior quantidade de endorfina produzida pelo nosso organismo ao acariciar um bichinho, o que traz calma e relaxamento. Outros estudos mostraram que pessoas com hipertensão ou obesidade também podem se beneficiar dessa companhia e até que crianças com autismo, surdez e gagueira se desenvolveram melhor ao lado de cães e gatos.
Mas será que é possível ensinar aos pequenos os cuidados que ele devem ter ao brincar e cuidar do bichinho? Imaculada, por exemplo, conta que a responsabilidade pelos cuidados com Billy é compartilhada. Os passeios, a comida e o banho têm a participação do garoto, mas as idas ao veterinário e vacinas são controladas pela mãe.
Segundo o pediatra e infectologista infantil Vanderson Firmiano Valente, as medidas variam de acordo com o comportamento da criança e vão depender da espécie, do tamanho e até mesmo do temperamento dos animais. "Os pais devem investir na divisão das responsabilidades. Animais, por mais que sejam divertidos, não são brinquedos. Como mais um membro da casa, eles têm demandas que precisam ser atendidas e as crianças podem e devem participar", alerta o médico.
O especialista explica que, além de cuidados básicos de higiene, como lavar bem as mãos, é necessária a atenção à saúde do animal: levar ao veterinário, dar banho, eliminar pulgas e carrapatos, vacinar e realizar exames periódicos são hábitos fundamentais. "Além desses cuidados, é muito importante prezar pela boa alimentação. Rações de boa procedência e adequadas para cada espécie ajudam a prevenir doenças. No caso de gatos, é importante evitar que o animal tenha contato com a rua e pratique a caça, porque ele pode interagir com animais doentes", explica o médico.
A fisioterapeuta Caroline de Oliveira Santos, mãe de Daniel, de 2 anos, também tem uma experiência transformadora com animais. Antes de adotar Vitória, uma cadelinha SRD de um ano, Daniel era mais dependente da companhia da mãe, 100% do tempo. "Era complicado até para fazer as tarefas domésticas, por causa da demanda de atenção", explica Caroline. Acreditando que a presença de um bichinho poderia ajudar, ela procurou um cão que estivesse para adoção. "Sempre achei que o cachorrinho adotado teria mais chance de ter o comportamento que eu precisava", explica a mãe.
De acordo com Valente, o fato de um bicho ser procedente de um criador ou de uma loja de animais não garante sua saúde. "Os cuidados são os mesmo para um animal adotado ou comprado. Mordidas e arranhaduras são comuns especialmente na combinação filhotes de cães e gatos/crianças pequenas. É necessária a supervisão dos adultos durante as brincadeiras, o que ajuda a evitar ferimentos, doenças bacterianas, parasitárias e até viróticas", explica o médico.
Vitória foi adotada por meio da Pet Shop Bom Garoto, que desenvolve um projeto para animais abandonados. Dois cães sempre ficam disponíveis para adoção na loja. Assim que são adotados, outros dois vão para a espera. Os cães são entregues vermifugados, vacinados com antirrábica e polivalente, com aplicação de produto contra pulgas e carrapatos. Eles ainda têm consultas gratuitas pelo período de um ano.
Companheiros inseparáveis, Tóinha (apelido que o pequeno deu à cachorrinha) ajudou Daniel a se tornar mais sociável e até a desenvolver a coordenação motora. "Quando estamos em uma festinha ou na casa de amigos e parentes, ele diz que sente saudade", relata a mãe. É o mesmo caso de Ítalo. Quando viajou com a família para a praia e Billy ficou aos cuidados da tia, ele sentiu falta do cachorrinho.
De acordo com o médico, os benefícios da convivência com animais de estimação são quase incontáveis. "Especialmente no âmbito da saúde mental e do desenvolvimento da criança. Contribuem especialmente na socialização, aquisição de responsabilidades. Há relatos de que a convivência com animais poderia diminuir o risco de alergias em geral e funcionar como um mecanismo de regulação da função do sistema imunológico", explica o infectologista.
De olho neste cuidados, Tóinha toma banho todas as semanas e escova os dentes regularmente, não pode ir à rua sozinha, não tem contato com lixo e nem com outros animais, sem supervisão. "Ela tem que ser muito bem tratada, porque todo animalzinho merece, é claro, e também porque é um membro da família. Um dia em que ela e Daniel estava brincando no quintal, eu lavei as mãozinhas dele, que estavam imundas; e ele me pediu para lavar o focinho dela. É a companheira dele", emociona-se a fisioterapeuta.
O artista plástico Rogério Fernandes tem uma família grande. Na casa, moram sete indivíduos: ele, a esposa Ana Tereza Carneiro, a Tetê; Benjamin, de 4 anos; Aurora, de 3 e a pequena Valentina, de 11 meses; além de Matisse, de 10 anos; e Cloé, de 9. Matisse e Cloé são os gatinhos de estimação do casal. "Todos são da família, logo, um tem que cuidar do outro. Meus filhos aprenderam isso de maneira muito natural", explica Rogério.
De acordo com o artista, essa convivência ensina noções de respeito, não só em relação aos gatos ou cachorros, mas também em relação ao espaço, em relação às outras pessoas e em relação a tudo que é diferente, desenvolvendo a tolerância. "Essa amizade entre eles trouxe mais noções de socialização, carinho e maturidade", comemora.
Quando a esposa ficou grávida pela primeira vez, o casal já tinha gatos. "Ouvimos muitos conselhos, de amigos e parentes, para retirar os bichos da casa. Mas consultamos nossa médica, e ela recomendou que fizéssemos os exames de toxoplasmose. O exame deu negativo. Seguimos também as recomendações de higiene e a Tetê não manipulou mais a caixinha de areia", relata.
Como a convivência com os bichinhos é bem próxima, sempre houve cuidado para evitar acidentes. "Benjamim e Aurora já entendem qual é a melhor maneira de fazer carinho. Agora, a Valentina está mais curiosa, quer apertar, e aos poucos vamos mostrando o jeito seguro", ensina. Quando cada bebê chegou, houve também uma estratégia para que os gatos associassem o novo membro da família a algo positivo, com brinquedos e petiscos.
Outra vantagem que Rogério vê é a prática de desapego. "Casa que tem animais geralmente tem móveis um pouco 'alterados', não é? É claro que ensinamos as crianças a terem cuidado com as coisas, mas ao mesmo tempo, o fato de o bichinho afiar a unha no sofá ajuda a mostrar que aquilo não é o mais importante na nossa vida", reflete.