Apesar destes dados alarmantes, o Transtorno Depressivo continua sendo ainda nos dias de hoje um mal silencioso e pouco conhecido da população em geral, inclusive dos próprios pacientes. Considerada pelos instrumentos de categorização de saúde mental como um transtorno do humor (como também as ansiedades, fobias e compulsões) e do espectro psiquiátrico, as características que compõem a doença são usualmente uma tristeza constante e crescente, bem como outros sintomas negativos (medo, desânimo, pessimismo) que vão incapacitando o indivíduo para as atividades corriqueiras como trabalhar, estudar, relacionar-se afetivamente e até passear.
No entanto, é importante ressaltar que a Depressão não se refere a uma tristeza qualquer, dessas que estamos sujeitos em algum momento da vida como: brigas com o namorado, repetir de ano na escola ou se desentender com o chefe. Esses são motivos que deixam o indivíduo frustrado, cabisbaixo, com raiva e até triste, mas não significa que ele desenvolverá uma depressão por conta disso. Em alguns dias ele certamente estará melhor.
Temos hoje temas importantes sendo debatidos no cenário da depressão:
- como o ambiente de trabalho e as exigências profissionais atuais fomentam uma rotina desgastante, propensa ao aparecimento de doenças comportamentais/emocionais;
- a depressão em homens, que acaba tendo menos comprovação diagnóstica por conta de estereótipos de comportamento ( o homem não se permite entristecer, chorar, sentir medo). Isto levanta dúvidas sobre as estatísticas oficiais de que as mulheres desenvolvem mais a doença do que os homens pois as mulheres até podem ser mais facilmente e frequentemente diagnosticadas com problemas psicológicos, mas não necessariamente significa que os homens estejam em condições melhores. A depressão masculina promove sintomas diferentes da mesma em mulheres. Elas tendem a ficar mais tristes, isoladas e letárgicas, já eles ficam usualmente mais irritados, agressivos e tentam afastar os sintomas muitas vezes ingerindo bebida alcoólica.
Outro tema também recorrente dentro dos quadros depressivos é a presença de sintomas ansiosos que muitas vezes deturpam o diagnóstico diferencial.
Para terminar, temos que cuidar também das condutas de tratamento profissionais e familiares do paciente. A ignorância em torno da doença faz com que muitas pessoas próximas e que poderiam auxiliar no processo de melhora, terminem por piorar ainda mais a condição depressiva. Frases como: “tenha um pouco de força de vontade”, “você tem tudo na vida, depressão por que?” ou “vamos viajar que passa”, costumam ser ditas nas melhores intenções ou por angústia do próprio familiar para ajudar e funcionam como uma bomba na cabeça de quem já está se esforçando para acordar a cada dia.
Do ponto de vista profissional, a melhor alternativa na maioria das vezes é uma combinação entre medicação antidepressiva e psicoterapia. Juntas e bem aplicadas, com esclarecimento familiar e do paciente, formam uma força tarefa expressiva no combate e vitória sobre este mal.
No fundo, a pessoa deprimida está se sentindo sem saída. É preciso mostrar a ela que nós profissionais temos essa saída e que aos poucos ela poderá enxergar também.