Sonhos - Coluna Economia e Comportamento por Tatiana Belanga Chicareli

Sonhos são passagens

para uma viagem

sem quilometragem.

Passamos em túneis

sem perceber

algumas mulheres sonham com anéis

e outras com o amanhecer.

Pessoas pobres sonham em comer

e o político sempre em se abastecer.

Carrego no sonho a esperança

no meu mundo de criança

de tirar a diferença entre pobres e ricos

como favelados e políticos

e lhes impor a semelhança

como minha melhor herança.

sonhos.jpeg

 Este é um texto livre de uma garota de quase 12 anos, na época, em 1992 na sexta série do ginásio. Esta sou eu. Desde que me conheço por gente gosto de ler e escrever. Engraçado que passados quase 30 anos, o texto é atual. Ideologias à parte, creio que ter escolhido o caminho de estudar Economia, História Econômica, ter interesse por Psicologia e Filosofia me levaram a questionamentos mais profundos sobre o real sentido de tudo isso que chamamos vida. Mas enfim, vamos ao que interessa, ao tema polêmico: Finanças.

No senso comum, as pessoas pensam Finanças como algo muito complicado que somente alguns poucos podem entender, aquele pessoal de terno que trabalha em Wall Street, ou nas corretoras de investimentos, popularizadas a um público maior devido a sua exposição nas redes sociais. No caso Brasil, temos atualmente uma fonte abastada em termos de informações sobre investimentos, formação de uma carteira de investimentos, planejamento, e infelizmente também a aposta em ganhos rápidos e sem “muito esforço” de curto prazo, que garantirá sua renda dos cursos picaretas de “Day trade”. Tudo tem seu preço.

Mas afinal o que são Finanças? Como uma Finança bem arquitetada pode levar a uma sociedade melhor. Meu autor favorito do momento, Robert J. Shiller, economista ganhador do prêmio Nobel, tem lecionado e escrito livros sobre o tema já há algum tempo. Shiller defende a ideia de que não somente o Capitalismo enquanto sistema, assim como o Capitalismo Financeiro (atual era do Capitalismo), é capaz de gerar uma sociedade mais igualitária. O pensamento não é tão absurdo quanto parece, somente precisa ser olhado por um outro prisma.

Muitos dos estudos na área de Finanças são focados em estratégias e resultados de curto prazo, tópico relacionado ao gerenciamento de risco, formação de portifólios otimizados de investimentos. Mas isto é somente uma parte do que Finanças realmente envolvem. Segundo Shiller em “Finance and the Good Society”, a solução para o problema está na melhora e democratização das Finanças, servindo assim a um bem maior da sociedade como um todo. As pessoas devem, portanto, ter um acesso mais facilitado a inovações financeiras, e principalmente uma melhor educação financeira. O papel do Governo então, é de fornecer regras claras ao jogo, que protejam os consumidores e que promovam o interesse público geral, permitindo que os competidores façam o que melhor podem fazer: fornecer melhores produtos e serviços. O desafio aqui fica por conta dos espectros dimensionais dessas regras, que deveriam atingir o mais igualitariamente possível uma dimensão internacional, dado que hoje em dia os mercados financeiros são “globais” em alcance e efeitos instantâneos.

O que tudo isso tem a ver com o meu texto livre escrito décadas atrás? Também não sei. Pensando em desigualdades e ideias lembrei-me desse texto. Talvez seja somente uma utopia, a diminuição das desigualdades num ambiente Capitalista (sobretudo financeiro), talvez não. Talvez existam pessoas, que se dediquem ainda a um estudo na área econômica e financeira, que olhe por trás do espelho, e que vislumbre, que talvez o que precisamos na construção de algo melhor, seja uma educação melhor, de base e superior, para servimos assim a sociedade com melhores cabeças. Infelizmente num ambiente tão agressivo de defesas de ideologias, principalmente nas redes sociais, fica chato, além de extremamente cansativo, tentar empreender uma discussão saudável e educada.

 

tatis.jpg

Tatiana Belanga Chicareli

Coluna Economia e Comportamento

Economista formada pela PUC-Campinas, Mestre em História Econômica pela UNESP, doutora em Desenvolvimento Econômico (História Econômica) pela UNICAMP. Pesquisadora na área de Econômica comportamental e Narrativas Econômicas, com foco no período da Grande Depressão. Escreve sobre economia, escolhas, livros e comportamentos. Email: tatiana.chicareli@gmail.com

Autoestima e realização dos sonhos - Coluna Psicologia da Leticia kancelkis

Nossa sociedade vem sendo marcada por graves incertezas e grande insegurança. Vivemos em uma verdadeira selva de pedras, em que temos que conviver com atitudes motivadas poregoísmo e individualismo extremos, por brigas entre vaidades. Os nossos sonhos têm sido muitas vezes contaminados pelo materialismo e pelo consumismo, de tal forma que o ser é confundido com o ter.

Um exemplo é o padrão de beleza tão exigente que pode também ser sentido como inalcançável e, ao mesmo tempo, como um dos maiores sonhos da vida de muita gente, senão o maior deles.  Há muitas vezes a ideia de que somente tendo um corpo perfeito é que se poderá ser amado e isso gera uma frustração gigantesca, além de um sentimento de culpa muito grande por não dar conta de atingir esse objetivo (ou sentir que não conseguiu).

É importante aqui dizer que, qualquer que seja o sonho de alguém, se há uma autoexigência muito grande de sua parte, a sua tendência é a de frustrar-se consigo próprio, sentindo esta experiência como fracasso e, consequentemente, trazendo o sentimento de que deveria conseguir, mas não é bom o suficiente para tanto.

Chamo de  “ fantasia de controle” a ideia que não está integrada na consciênciade muitas pessoas de que se teria poder e responsabilidade sobre questões que, na realidade, não se controla ou, ao menos, não completamente. Ao longo de 17 anos, tenho visto muitos casos em que se assume papéis e responsabilidades que não são próprias desde tenra idade, significando tantas vezes uma inversão de papéis em relação aos seus pais/cuidadores. Esta inversão pesa e pesa muito, na medida em que a criança não possui recursos internos para poder cuidar de outra pessoa e nem mesmo para cuidar de si própria sozinha; e este peso não fica na infância, no passado, mas pode se arrastar para as outras relações indefinidamente, no decorrer da vida, em um funcionamento que se cristaliza e busca se perpetuar, tornando-se rival da auto-realização.  A partir dessa ideia, é muito fácil acontecer uma autodepreciação que poderá resultar em um rebaixamento da autoestima bem como sentimentos de inadequação e de culpa capazes de gerar movimentos de autopunição e consequente inviabilização de realizar os próprios sonhos.

Apenas por meio da descoberta de ideias e conflitos inconscientes é que se pode encontrar as vias para elaborar os mesmos e romper o ciclo que facilmente se constrói em decorrência deles, no sentido de um autoboicote. Só assim é possível remover as amarras para a conquista de uma vida repleta de sonhos realizados.

Leticia Kancelkis

Coluna Psicologia

Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com