Cada um de nós nasce com um potencial para compreender o mundo, para trazê-lo para dentro do coração e cada um, de acordo com esse potencial e com as experiências vividas, ocupa um lugar, psiquicamente falando. Esse “lugar” pode não ser encontrado e ocupado tão facilmente. Tudo depende de como a pessoa pôde construir a própria identidade e de como ela a sente em relação ao outro que o rodeia.
Muitos de nós nos sentimos simplesmente sem lugar, sem a chance de exercer o direito de ocupá-lo. Isso pode decorrer de ideias fantasiosas de que não se pode ser o que é, entendendo, possivelmente, que é necessário adaptar-se e atender tão somente às expectativas do outro, como se fosse possível ser como um líquido que assume a forma do recipiente que o contém.
Esses movimentos psíquicos, além de infrutíferos por serem repetições de conflitos inconscientes, são extremamente cansativos, extenuantes. Afinal, isso parece uma busca infindável por si mesmo, pela resposta à pergunta: “Quem posso ser sem que, com isso, eu perca aqueles a quem amo?”
Sim, parece-me que é a fantasia inconsciente de que é necessário ser o que o outro quer que o sujeito seja, que move esse tipo de funcionamento e que o faz sentir-se aterrorizado pela ideia de estar/ficar sozinho como consequência de seu fracasso em ser verdadeira fonte inesgotável de atendimento das expectativas imaginadas que o outro teria em relação a ele. Afinal, isso é impossível; está no campo do imaginário.
Tudo isso acontece de uma forma muito escondida na mente e traz bastante sofrimento pelo sentimento de solidão que pode se instalar junto com a ideia de que a própria pessoa provocou isso. É fácil existir, então, um sentimento de culpa associado a ele.
Sente-se sozinho no meio da multidão? O que estaria por trás disto? Convido você a sondar seu coração, buscando identificar sentimentos e ideias que podem estar ligados a estes, dos quais falamos aqui. Somente quando identificamos e compreendemos questões como estas, é que podemos fazer com que percam a força de nos prejudicarem.
Leticia Kancelkis
Coluna Psicologia
Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com