Diante da pandemia de COVID-19 o " ficar em casa " é mais que um ato de cidadania , é um ato de responsabilidade e empatia com o próximo , visando diminuir a rápida transmissão do SARS-COV-2 .
Durante o período de quarentena , as crianças não estão indo às escolas, os avós não podem contribuir no monitoramento delas, a maioria dos pais precisam trabalhar em esquema de home office e lidar, ao mesmo tempo, com os afazeres da casa, os cuidados com as crianças que agora passaram a ser em tempo integral, as compras e saídas restritas, as preocupações financeiras e também lidar com as informações sobre a pandemia que nem sempre chegam de forma clara.
Todo esse cenário pode ser tóxico , levando ao aumento dos hormônios do estresse na infância, como o cortisol e adrenalina. Isso pode acarretar várias consequências tanto a curto prazo ( transtornos do sono, irritabilidade, piora da imunidade, e medos ) , como a médio e longo prazo ( maior prevalência de atrasos no desenvolvimento, de transtorno de ansiedade, de depressão, queda no rendimento escolar e estilo de vida pouco saudável na vida adulta) .
Visando a preservação do bem estar das nossas crianças e adolescentes e, de acordo com as pesquisas das Neurociências e das publicações científicas recentes, o Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento fornece algumas dicas importantes para os pais nesse momento de pandemia e eu venho, por meio desse texto, compartilhar com vocês:
01. Os adultos devem realizar momentos de diálogo para discussão das atividades prioritárias do dia a dia, das necessidades básicas da casa, da divisão de tarefas e obrigações. Deve-se organizar os horários do trabalho de cada um dos pais, tentando intercalar os períodos para os demais afazeres da casa e das crianças.
02. Discutir em família o papel que cada adulto possui em fornecer o suporte para que o estresse não se torne tóxico para as crianças e adolescentes.
03. Ensinar como higienizar as mãos e que esse cuidado deve ser um hábito diário, mesmo após a pandemia acabar. Além disso, orientar como espirrar com proteção, como utilizar os seus utensílios, como evitar o contato físico e como se cuidar de forma lúdica, com músicas, leituras e brincadeiras.
04. Conversar com os seus filhos sobre a situação atual, com linguagem simples e adequada para cada idade da criança. As orientações devem ser transmitidas de forma tranquila a fim de evitar a elevação do estresse, do medo e da ansiedade no nível de chegar a comprometer a imunidade e saúde mental dos pequenos. Explicar que as medidas são de prevenção, mas que podemos esperar bons desfechos. Dar abertura para que eles possam expressar seus sentimentos e suas dúvidas em um ambiente acolhedor e de apoio mútuo.
05. Realizar o planejamento de agenda dos filhos juntamente com eles, incentivando-os a organizar horários equilibrados para manter as atividades de estudo, leitura, música, atividade física, sono e tempo de tela, respeitando os limites da rotina saudável, além dos intervalos de ócio criativo para que a própria criança faça reflexões e brincadeiras que irão ajudá-la a superar esse momento.
06. Manter a dieta e a ingesta de líquidos adequada para cada idade. Os alimentos possuem papel no crescimento, na prevenção de doenças e na formação da arquitetura cerebral. O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e mantido até os dois anos é de grande relevância. Chamar atenção para o sobrepeso e obesidade.
07. Intercalar períodos de atividades físicas dentro do lar em mais de um horário do dia nos turnos da manhã e da tarde e, se possível, fazer as atividades em conjunto pais e filhos. Estimular a criança e o adolescente a ser criativo para realizar essas atividades em casa que podem ser de circuitos feitos com travesseiros e garrafas plásticas, pular corda, dançar, artes marciais dentre outros.
08. Estimular atividades no quintal, na varanda ou próximo a locais mais arejados da casa ou apartamento.
09. Usar a tecnologia a favor de todos. Definir com as crianças os horários para o uso saudável das telas, segundo as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, evitando ultrapassar os limites e o acesso sem supervisão a conteúdos inadequados.
10. Definir horários para jogos online com os amigos e para videconferências com os avós (visualizar os avós em boa saúde pode tranquilizar as crianças). Estimular os avós a terem conversas alegres e momentos de descontração durante os contatos à distância.
11. Inserir as crianças e adolescentes nas tarefas domésticas respeitando a capacidade de acordo com a idade de cada um. Incentivar o ensino colaborativo supervisionado enquanto realizar essas atividades e aproveitar para ensinar afazeres de forma alegre e prazerosa, pois isso pode trazer grande aprendizado para a criança e adolescente.
12. Converse com as crianças e adolescentes para que eles respeitem os momentos que os adultos precisam trabalhar de forma mais concentrada. Tentar sincronizar o horário dessa necessidade com a agenda de um filme ou alguma atividade em que a criança não necessite de tanta supervisão.
13. Reservar um a dois momentos do dia para que os adultos possam se atualizar em relação às informações, sem expor as crianças a conteúdos inadequados. A maioria das informações repassadas pelas mídias são direcionadas para o público adulto e cabe aos pais limitar o acesso das crianças, repassando o que for necessário com linguagem adequada.
14. Incluir na agenda pausas durante o dia para que a família possa estar unida de forma alegre e prazerosa. Tente realizar as refeições junto com as crianças abordando temas construtivos. Praticar as técnicas de atenção plena e de relaxamento.
15. Seja você o modelo de comportamento que espera de seus filhos. Portanto, os pais devem evitar excesso de tela, manter o lar harmonioso e demonstrar de forma assertiva e genuína como lidar com equilíbrio com essa situação adversa só traz benefícios na construção de um cérebro saudável na infância.
16. Deixar claro para todos que o momento não é de férias e sim de uma situação emergencial transitória de reorganização do formato em que as atividades cotidianas devem ser cumpridas.
17. Cuidado redobrado na prevenção dos acidentes domésticos com as crianças.
Lembrando que a quarentena é a medida mais importante , nesse momento , para reduzir a propagação do vírus e que as crianças são os maiores transmissores da COVID-19, pois muitas vezes são pouco sintomáticos ou sem sintomas . Cuide da sua família e de toda sociedade : fique em casa .
Texto adaptado da publicação : "Pais e filhos em confinamento durante a pandemia de COVID-19" do Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria
Carolina Calafiori de Campos
Dra Carolina Calafiori de Campos - CRM 146.649 RQE nº 73944
Médica Formada pela Faculdade de Medicina de Taubaté, Especialização em Pediatria pelo Hospital da Puc Campinas, Especialização em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital da Puc Campinas, Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria - Contato: carolinacalafiori@hotmail.com