“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o Universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum.”
Partamos da famosa frase acima para refletirmos a respeito da importância do autoconhecimento para a superação da(s) perda(s). Falamos, nos textos anteriores, sobre quatro segredos para esta superação, quais sejam: a esperança, o exercício de “viver um dia de cada vez”, o reconhecimento e a compreensão do sentimento de culpa e a generosidade e altruísmo equilibrado e achamos por bem completar esta série com a abordagem do tema “autoconhecimento”.
Sendo assim, é preciso considerar que conhecer-se é fundamental para alcançar todos os demais segredos. De fato, trata-se de um desafio a ser aceito, mas um desafio que realmente vale a pena!
A esperança provém da possibilidade de sentirmos confiança em algo que não se vê, mas se conhece de um modo profundo e indelével, cuja base se encontra dentro de nós mesmos, em nenhum outro lugar; está na nossa interpretação, por assim dizer, do mundo e das pessoas, de Deus e seus mistérios; está nas figuras de pai, mãe, masculino, feminino, divino que podemos colocar para dentro do coração, de acordo com o potencial que é só nosso para isso.
Já o exercício de “viver um dia de cada vez” está intimamente ligado à possibilidade de ter tido experiências de vitória após ter passado anteriormente por dificuldades, a partir de uma postura de perseverança frente às adversidades. Estas experiências de superação anteriores a uma determinada perda geram justamente a esperança, que, por sua vez, gera a confiança necessária que possibilita a tranqüilidade e a paciência de “viver um dia de cada vez”, aproveitando cada minuto para fazer com que o momento seguinte seja o melhor possível. E só podemos nos valer assim das experiências de que estamos falando se tivermos certa dose de autoconhecimento, podendo, por meio dele, identificar possibilidades e limites para a superação de uma perda.
Da mesma forma, apenas o processo de autoconhecimento é capaz de promover o reconhecimento e a compreensão do sentimento de culpa, trazendo dados de realidade e fazendo fantasias que o produziam perderem a força e, com isto, a angústia provocada por elas também.
No que diz respeito ao poder exercer a generosidade e o altruísmo equilibrado, isso somente parece possível se a pessoa conseguir conhecer mais profundamente os próprios recursos internos, as próprias potencialidades e as mentiras contadas pelo inconsciente a respeito das ameaças que este tipo de sentimento e atitude (como o perdão, o investimento afetivo no outro...) representaria fantasiosamente, mas não de fato. O perdão, que pode ser tão libertador, por exemplo, pode também ser dificultado por ideias que trazem sensação de enfraquecimento, de perda de controle sobre alguma situação... Ameaças imaginadas mas irreais acionam em nós defesas psíquicas que na verdade não nos defendem de coisa alguma e, pelo contrário, impedem, por exemplo, o exercício generoso e altruísta, tão importante para a superação da(s) perda(s).
Leticia Kancelkis
Coluna Psicologia
Formada em Psicologia desde 1999, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica de referencial Psicanalítico pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Autora dos livros: “O Sol Brilhará Amanhã: Anuário de uma mãe de UTI sustentada por Deus” e “Uma menina chamada Alegria”. Atua como Psicóloga Clínica, atendendo também por Skype. Contato:leticia.ka@hotmail.com